quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Ele...

Ele era grande, ele era homem, tinha uma voz marcante, forte, ele todo protegia. Enquanto ele vivia, assoviava, ria, e desenrolava a vida, eu observava, era protegida, e aprendia. Quando a tristeza me invadia, ele sorria, e esse sorriso levava embora tudo que de ruim eu sentia, era como se a tristeza que queria me habitar, eu pequena, indefesa, confusa, perdida, ao ver o sorriso dele fugisse de medo; eu era defendida. Um dia na piscina fingi que me afogava, queria que ele me salvasse, mas para surpresa minha, ele viu, sorriu, e desviou o olhar. Naquele dia eu aprendi a nadar sozinha, eu aprendi a tê-lo constantemente em cada pequeno passo, em cada tombo e em toda levantada. Aprendi com ele a experimentar, não só a vida, mas todos os ingredientes que dão gosto aos dias. Perdi o preconceito do paladar, comecei a sentir antes de julgar, a me abrir antes de me fechar, a sorrir antes de chorar, a acreditar antes de desistir. Aprendi a ter calma, a prestar atenção nas coisas, a dar valor às pessoas, aos cenários, às cores. Ele me ensinou a andar, me ensinou a admirar, me ensinou a ter força, a manter esse passo firme, a estar pronta para reaprender o que já havia sido aprendido. Ele me ensinou a falar menos e ouvir mais, me mostrou que o silêncio é melhor que a ofensa, que a música é melhor que o silêncio, que cantar cura. Ainda sinto o cheiro, ainda sinto as texturas, ainda ouço a voz, ainda vejo o sorriso, ainda me toco pelo abraço, ainda me emociono de saudade. Ele me ajudou a ser criança, me ajudou a sair da infância, me ajudou a enfrentar a adolescência, e ainda me auxilia na tentativa de virar mulher. Ele é meu avô, ele é meu Militão.